25 de maio de 2012

As Crianças Sabem da Paz - 2º Prémio


                               As crianças sabem da paz


      Acordar de manhã com um sorriso nos lábios é difícil, mas é sem dúvida a melhor forma de começar o dia em paz. Quando o meu irmão de 6 anos salta para a minha cama cheio de energia e diz: “Joana, acorda para a vida”, apesar de me apetecer ficar enrolada nos lençóis e desejar que ele se vá embora para poder dormir mais um bocadinho, não consigo deixar de sorrir-lhe e de sentir uma paz enorme dentro de mim.

     A melhor doação que podemos fazer é dar um sorriso. Não se gasta nada para doá-lo, mas tem um grande valor para quem o recebe. Dura só um momento, mas a sua lembrança pode perdurar para o resto da vida. Não se compram sorrisos, não se pedem emprestados, também não se roubam, são espontâneos.

     Um sorriso pode querer dizer muita coisa: “desejo-te um bom dia”, “és bem-vindo”, “estás perdoado”, “gosto muito de ti”, “tinha saudades tuas”, “obrigado por seres meu amigo”…

      Já fiz a seguinte experiência: no caminho de casa para a escola, sorri a todas as pessoas com quem me cruzei e o resultado foi que recebi quase sempre retribuição. Uns mais envergonhados, outros mais expansivos. Mas não há dúvida que sorrir é contagiante.

      Um sorriso é a linguagem universal da paz, um sorriso lava a alma, cura doenças, salva vidas, cria laços, é eterno, é uma lição de solidariedade. Um sorriso é a melodia da paz.

     O sorriso de uma criança é um sorriso natural, verdadeiro, intenso e, por vezes, inocente.

     E já agora, vamos sorrir mais um pouco, para através desse sorriso espalhar a paz que existe dentro de nós?


      JOANA FOITO – 10º B

 * O Trabalho da Joana recebeu o 2º prémio a nível local e o 2º prémio a nível nacional.

24 de maio de 2012

Sobre Fernando Pessoa


        Sobre Fernando Pessoa

       "Do lar que nunca terei!" é assim que escreve e sente Fernando Pessoa, uma alma solitária que vagueia pelo mundo de todos nós, pelo mundo criado por ele próprio e pelo seu imaginário. Pessoa é um poeta do Mundo e não de um espaço, não tem local de nascimento a não ser na Terra, não tem um espaço a que chame casa ou lar, o mundo inteiro é esse espaço.

       Ele considera que não teve lar, não tem lar e nunca terá. Esse sentimento vivenciado pelo poeta passa para o papel através da bela poesia que apresenta e cria um tema, um modo de escrever e uma assinatura que é, apenas e só, sua. Pessoa utiliza as suas vivências para espelhar a vida de outros, utiliza a sua extraordinária imaginação para ser outros. Sozinho, Pessoa é, mas sozinho Pessoa não está, fisicamente sozinho aparenta estar, mas psicologicamente uma multidão o acompanha.

       O poeta pode-se considerar parteiro pela maneira como traz ao Mundo e dá vida a tanta gente e pode-se considerar coveiro pela maneira como enterra personagens que personificou. No nome apenas traz uma pessoa, mas no imaginário traz Portugal inteiro.
 Paulo Ribeiro, 12ºD

 Setúbal, 16-02-2012

23 de maio de 2012

AS CRIANÇAS SABEM DA PAZ - 1º Prémio



AS CRIANÇAS SABEM DA PAZ


          Eu costumava brincar com pequenos soldados verdes. Eles lutavam e guerrilhavam enquanto eu brincava contente. Passava dias a brincar assim, feliz. A minha mãe fazia-me um sumo de laranja e deixava-me brincar no jardim, por entre as árvores, enquanto eu inspirava aquele odor surpreendentemente doce que rodeava o ar. O verde inebriante ofuscava-me a visão para lá do portão da minha casa.
        E as minhas tardes de Verão desenrolavam-se assim, serenas e pacíficas. Eu sorria em todas aquelas tardes, sentia um forte sentimento apaziguador. E, à noite, voltava sempre para o quarto, para brincar com os meus soldados. Os mesmos soldados com que sempre brincava. E eles lutavam e guerrilhavam, enquanto eu brincava contente.
         Eu já tinha uma certa idade, os meus doze anos, mas continuava a brincar com os meus soldados. Todos os dias. Reconfortavam-me, era o refúgio do meu dia-a-dia. Os soldados e a natureza que me rodeava revigoravam-me, pacificavam-me o corpo e a alma. Isso e os sumos de laranja doces que a minha mãe fazia, os sumos que eu dizia saberem a “amor”. E já depois dos meus doze anos, comecei a perceber que aquela paz estava prestes a esmorecer, algo para lá do compreensível sussurrava-me o decaimento dos meus refúgios.
       E assim aconteceu.
      Um dia, o meu pai, há muito desaparecido, telefonou-me. Nesse dia, num dia em que a minha mãe não aparecera em casa depois do trabalho, nesse dia cinzento que fazia tudo parecer mais distante e menos real, ele telefonara-me.
         - A tua mãe morreu, rapaz – proferiu, no tom mais altivo, rouco e despreocupado que conseguiu impor à sua voz.
       Eu parei. O telemóvel escorregou-se-me por entre os dedos e eu só pensei:
       Acorda, por favor!
       Mas não acordei. E aquele pesadelo puxou-me para o seu cerne, qual buraco negro a consumir luz.
       A minha paz desfez-se. O meu amor retraiu-se e toda a beleza deixou de fazer sentido.
       Eu costumava brincar com pequenos soldados verdes, eu costumava brincar por entre as árvores do meu jardim, eu costumava beber o sumo de laranja que a minha mãe me preparava. A minha mãe.
       Hoje moro com a minha avó, numa casa pequena. De vez em quando ainda sinto a frescura da natureza, recuperei o meu amor, e construí um novo conceito de paz. Um conceito novo, só meu. Posso dizer que aprendi a viver com o que tenho e com saudades do que já tive. E se me perguntarem se sou feliz, eu respondo que sim. Porque sou. Tenho mais do que poderia alguma vez desejar ter: tenho uma mãe a guiar-me, todos os dias, uma mãe que aceita as minhas decisões sem me julgar, que me apoia sem falar e que, mesmo sem eu pedir, me agarra se eu me desequilibrar. Tenho tudo o que preciso.
       Descobri a paz noutros lugares, rebusquei e encontrei-a e ela acompanha-me, tal como me acompanhava quando eu era uma criança. Ainda brinco por entre as árvores, ainda me arrepio ao inspirar o odor fresco da natureza. E a minha avó faz-me sumos de laranja, mas não sabem a amor, sabem a ternura. E quanto aos soldados verdes? Ofereci-os. Já não precisava deles, sou o meu próprio soldado. Luto pelo que quero e guerrilho pelo que me pertence, derrubo os meus obstáculos como mais ninguém consegue e atinjo as minhas metas sem derrubar ninguém durante a viagem.
        Eu sei da paz, as crianças sabem da paz e quem acredita nela também a conhece.


MARGARIDA NIETO – 10ºB

*  O trabalho da Margarida recebeu o 1º Prémio a nível local.

22 de maio de 2012

As Crianças Sabem da Paz - Menção Honrosa


       É dezembro, o natal aproxima-se. João já pensou na carta ao pai natal, mas não lhe ocorre nada mais se não pedir “piolhos”. Sim “piolhos”. Desejava ter “piolhos”. Tem tudo o que é de última geração, últimos modelos, os tops! 
       Todos os dias são iguais, num desassossego sossegado, de uma paz inerte, imóvel…inafetiva.
     O despertador toca às 7h. O pai do João acorda-o, da entrada do quarto, com o desejo dito numa ordem: Despacha – te! O João sai da cama quente e indolente, enfia-se na roupa. Compõe o cabelo ao espelho, e com uma coçadela, suspira por “piolhos”. Mal se senta à mesa e já o pai pronto, lhe grita da porta da rua: Despacha-te João! 
    O João arrasta os pés e a mochila até ao elevador do 10ºandar na cobertura de um prédio de condomínio privado. Descem à garagem e voam até à entrada da escola. O João sai do carro com um adeus e perde-se numa pequena multidão de outros tantos meninos…O João pergunta-se quantos destes meninos teriam “piolhos”… 
      6h da Tarde e a campainha da escola tinha acabado de tocar, já o João era engolido pela multidão até ao portão. O pai já o esperava impaciente. Como queria ter paz! 
      O João entrava no carro num só salto e até casa trocavam apenas “ Boa tarde”. O João pensava, se o pai alguma vez teria tido “piolhos”. 
    Em casa a empregada esperava-o com o lanche pronto. Lembrava-se da frase em francês e repetia-a mentalmente como para acalmar a sua falta de paz: “Sauvous la Terre… /l’ unique planete/ oú “pousse”le chocolate!”
     Rodou sobre as pernas cruzadas num carpélio de lã, na esperança de abandonar os seus pensamentos. Encostou-se a única janela sem terraço e olhou numa brechinha de céu, que o condomínio lhe permitia olhar a Terra, e voltou a ter a visão desejada, daquele menino deitado de costas no colo da mãe, enquanto esta o penteava devagarinho, detendo-se de vez em quando, enquanto parecia passear com os dedos os fios de cabelo e os acariciar… Deviam ser “piolhos”, pensou! Como ele desejava ter “piolhos”! 
     Sorriu, coçou a cabeça, acariciou os próprios cabelos, repetindo os gestos que via.
    O João sabia da paz! As crianças sabem das coisas! 
    As crianças sabem de chocolate! As crianças sabem da Paz!

       BEATRIZ SOUSA -10º B

     *O trabalho da Beatriz recebeu uma Menção Honrosa